Liberdade, liberdade!

Eu tinha anotado umas ideias pra escrever sobre isso já há algum tempo e fui deixando, deixando… e vou escrever logo antes que a caravana passe, embora eu creia que vá demorar a passar. A Piauí desse mês me soa como um retrato da época em que vivemos, o esgotamento de um modelo de gestão política federal. Talvez a eleição passada fosse mesmo o momento da mudança, mas as alternativas soaram muito piores do que o que estava aí. De qualquer modo, vou falar disso de novo. Por que tem gente que quer voltar a ser governado por militares?

Eu tenho algumas respostas pra isso, hipóteses, digamos. Uma boa parcela da população mais velha tem boas lembranças do período. “Eles não conhecem a história? Não sabem o que acontecia nos porões do DOPS etc.”? Sabem. Claro que sabem. Devo ter dito isso no texto anterior, mas não custa repetir. Quem era preso? Comunistas, sindicalistas e outros arruaceiros. Tinham mais é que tomar bordoada mesmo. É isso o que pensam aqueles que querem a volta de um governo militar, pra colocar ordem nessa bagaça.

Ordem? Pois é. Aqui está a segunda razão. As Forças Armadas são encaradas como um bastião da moralidade: lá não há ladrões, todos são disciplinados e obedecem seus superiores, são organizações bem estruturadas… (clichês, óbvio; em parte verdade, certamente) em suma, não há ladroagem e putaria, coisa que o PT institucionalizou na coisa pública, dizem. Me soa como uma explicação quase psicanalítica. A sociedade não consegue se autoadministrar, precisamos de um irmão mais velho, alguém que nos coloque no lugar, que diga que não devemos sentar com as pernas abertas, tirar tatu do nariz, ou coçar o saco em público. Sinto que falhamos enquanto sociedade, enquanto democracia.

Nesse sentido, notem, a democracia tem a ver com aceitar coisas de que não gostamos. Num governo militar legalizar aborto, consumo de maconha ou casamento homossexual jamais entraria na pauta de discussão da sociedade e do congresso. É nisso também que se apegam. Os que pedem a volta de um regime militar se ancoram nesse passado glorioso onde a família tradicional estava livre disso tudo. Sabemos que não, óbvio. As coisas aconteciam escondido, e é melhor que permaneçam assim.

Podemos culpá-los por pedir isso, diante de tudo que temos visto? A economia viveu momentos gloriosos, o país crescia, tinha emprego, tinha escola (pra quem?), tinha vaga na universidade (pra quem?), a violência era baixa (era mesmo?) e os marginais presos (eram mesmo?).

A liberdade assusta algumas pessoas. Preferem a opressão, a polícia moral. Afinal, a liberdade gerou esse fuzuê todo. O pobre não sabe votar, é manipulado pela militância-lavadora-de-cérebro-propagandista do PT (livre-arbítrio, escolhas, oi?), num regime militar isso não aconteceria, afinal, não teria voto.

Ditadura? Como assim?

Alguns de nós se fizeram essa pergunta ao descobrir que algumas pessoas saíram às ruas ontem com cartazes em que se lia “intervenção militar já!”. Muita gente escreveu por aí: eles não conhecem a história? Não saberiam o que os militares fizeram durante o período em que governaram o país? Não sabem o que os ditadores fazem? Claro que eles sabem. Mas vou adotar um ponto de vista diferente aqui, me interessa entender por que é que mesmo assim há um grupo de indivíduos na nossa sociedade que prefere a perda da liberdade a ser governado por um governo do qual discorda.
Fazendo uma sociologia de fundo de quintal, eu diria que a política tem um quê de religião, no sentido em que as pessoas estão dispostas a acreditar em certos tipos de coisas, mesmo que as evidências as contradigam. Vejam-se os debates eleitorais, por exemplo. Não se está ali para avaliar o melhor candidato, por mais que nos digam que seja essa a sua função. Os candidatos estão muito mais preocupados em colocar o adversário em uma posição vexatória ou mostrar os seus defeitos; além, claro, de apresentarem suas propostas. Na letra fria, é um concurso de retórica.
Outro “argumento” nesse sentido. Por que o PT possui a fama de ser um partido corrupto quando não é o partido com mais membros envolvidos em casos de corrupção? Eu diria que isso se deve a uma perseguição incessante de certos veículos de comunicação. Uma denúncia de mal-feito toma uma dimensão espetacular se o político envolvido for do PT ou de alguém minimamente envolvido com o partido. Não estou defendendo os corruptos, apenas gostaria que a imprensa tratasse os políticos desonestos com a mesma medida. E além do mais, eles estão sendo processados, qual é a bronca, então?
Voltando à questão inicial, agora acho que posso arriscar uma resposta. As pessoas estão dispostas a abrir mão de sua liberdade porque acreditam que entre isso, e tirar do poder um governante que elas não aceitam, a primeira opção é melhor. Nossa ditadura recente foi civil-militar, embora apenas militares tenham sido presidentes. Os vinte e poucos anos sem eleições pra presidente só funcionaram pelo apoio civil. Ás vezes tenho a impressão que as pessoas falam do período como se os generais faziam o que bem entendiam e a sociedade assistia a tudo de braços cruzados com medo. Desculpa informar, mas tinha muita gente aplaudindo.
Além do mais, as pessoas que saíram às ruas ontem acreditam piamente que estão fazendo a coisa certa. Para elas não há uma segunda opção. Aceitar o resultado das eleições seria aceitar a derrota e compactuar com os escândalos de corrupção – na visão estreita de mundo dessas pessoas, quem votou em Dilma está sendo cúmplice da roubalheira. Não é nada disso. Tem a ver com representação, e isso vale para um bom grupo de pessoas. Arriscando uma estatística mequetrefe, eu diria que pelo menos uns 30% de cada lado jamais votaria do oposto, não importa o que acontecesse – uns 20% tendem a apelar para critérios mais racionais, e uns 20% não estão nem aí. Conservadores nunca votarão no PT, nem que o partido tivesse feito o governo mais honesto da história. Petistas jamais votarão num candidato de direita, nem que ele seja o candidato mais preparado e qualificado. Assim, se o sujeito diz que não vota no PT porque o governo é desonesto ele está apenas se enganando. Eu arriscaria a perguntar a essa pessoa por que ela não muda de religião, já que muitos padres são pedófilos, pastores abusam sexualmente de fiéis, mentem milagres, e descaradamente pedem dinheiro de pobres coitados enquanto moram em coberturas de luxo.
E justamente por pensarem estar fazendo a coisa certa, o fato de que em uma ditadura as liberdades sejam cerceadas, os opositores normalmente são presos ou calados, ou exilados, tudo isso é até justo. Afinal, quem apoia um regime desse tipo não tem com o que se preocupar, pois foi aquilo mesmo que ela pediu: a polícia tem mais é que descer o sarrafo nesses vagabundos.

Vai que…

Aqui do meu sofá vou fazer um exercício de futurologia. É uma posição cômoda e quentinha, claro. Mas nada me impede de fazer isso. O que é uma coisa boa… Vai que esse fuzuê cresça para além dos objetivos do Movimento Passe Livre (MPL)  e vire algo similar ao maio de 68 na França?

Temos objetivos para além desse descontentamento difuso, pra usar uma expressão que eu li por aí? Temos de sobra, dirão alguns. Outros dirão que tudo está errado: educação, saúde, corrupção, cristão de toda sorte querendo legislar de acordo com suas crenças, a máquina estatal colocando cimento em todo lugar (nas cidades para construir estradas, nas matas para construir barragens e expulsando indígenas de suas terras), o machismo, ______ (adicione aqui a sua reclamação). A quem devemos dirigir nossas reclamações? Vamos reclamar por reclamar, só de birra?

Mas tudo isso soa muito abstrato para mim. Por exemplo: o que quer quem protesta contra a corrupção? Quais são suas propostas? O que de prático o governo federal poderia para satisfazer as exigências desse pessoal? Um exemplo concreto é o MPL, cuja agenda de luta não deixa dúvidas do que o movimento almeja: transporte público gratuito. Vá lá, é meio utópico, embora seja legítimo. Pelo menos alguém se movimenta para reclamar quando a tarifa aumenta, organiza manifestações etc.

Existe um movimento contra a corrupção com propostas concretas, pelo menos debatíveis e com apelo popular? Não sei se tem apelo popular, mas existe um Movimento Brasil contra a Corrupção (mbcc.com.br). Há algumas propostas elencadas no site, mas há um aviso legal que impede que qualquer coisa do site seja reproduzida (mesmo que a fonte seja citada), o que é bem esquisito, acho. Mas tudo bem. Quem quiser saber o que eles defendem visitem o site. Uma das pautas é o 10% do PIB pra educação e outros 10% para a saúde. O que não é uma pauta só deles (vários deputados também defendem isso).

Mas será que temos condições para que diferentes pautas sejam reunidas em um movimento único? Acho que não. Primeiro, acredito que depois que os governos municipais resolverem o problema dos aumentos das tarifas de ônibus as manifestações irão arrefecer. Segundo, agendas da direita (combate à corrupção tem toda a cara de ser pauta da direita) e agendas da esquerda são mutuamente excludentes em pontos fundamentais (enquanto conservadores são contra o aborto e não veem problema em legislar de acordo com suas crenças, a esquerda se opõe frontalmente a isso; para a esquerda políticas sociais são primordiais, para um conservador é assistencialismo e populismo). Em maio de 68 na França a situação era muito diferente. O movimento dos estudantes que pediam reformas educacionais logo se transformou em um movimento que reclamava por transformações mais profundas na sociedade francesa como um todo (o estado era opressor, a família e a igreja eram extremamente conservadoras, os trabalhadores exigiam melhores condições de trabalho etc.). Duvido muito que o movimento consiga adesão popular mais geral de sindicatos e outros movimentos sociais. Agredir a imprensa e quem carrega bandeiras de partidos não ajuda nada nisso. Corre-se o risco de se perder a simpatia da imprensa (que mudou o discurso da água para o vinho) e de termos confrontos entre os próprios manifestantes (o que já tem acontecido em São Paulo).

A esquerda e os movimentos sociais sempre estiveram acordados. Talvez os movimentos sindicais e sociais (MST, CUT etc.) tenham se aquietado um pouco nos últimos anos, em função de pactos feitos com o PT. Mas basta dar uma olhada nas notícias dos últimos seis meses do ano para ver quantas manifestações ocorreram nesse período: marcha das vadias, contra o estatuto do nascituro, marchas de ciclistas pedindo mais ciclovias, marcha pela legalização da maconha, marcha pelos direitos dos animais… e por aí afora. Praticamente toda semana tem uma marcha qualquer.

Sou cético quando a isso tudo virar algo maior, seja parecido com maio de 68, ou com a primavera árabe. Sobre o primeiro apontei acima as razões, sobre a comparação com o segundo movimento, fica claro que não temos um governo opressor. Por mais que fique clara a sensação de que os governantes se refestelam com o dinheiro enquanto o povo passa fome, não é o povo que passa fome que está reclamando do governo, é justamente a parcela bem alimentada da população que grita #foradilma e ataca as instituições com paus, pedras e coquetéis molotov. Ainda tem o problema da confusão dos poderes. Muita gente nem sabe a quem reclamar e acha que tudo é culpa da Dilma e do PT. Confundem os poderes. Transporte público é obrigação dos municípios. A PEC37 é um projeto do legislativo. Logo, a sociedade civil interessada deveria dirigir suas manifestações ao deputado autor do projeto e à comissão da câmara que analisa a proposta.

Se virar algo maior, suprapartidário, e não apartidário, ótimo, é sempre bom uma arejada nos ânimos de quem esteve um bom tempo dormindo. Se de fato conseguir mudanças na mentalidade do brasileiro que achava que o povo era ‘acomodado’, melhor ainda.

O mensalão e a semântica

Uma polêmica que gira em torno do mensalão me parece uma questão semântica. É semântica porque te a ver com como definimos o “mensalão”. A acusação inicial de Roberto Jeferson era de que havia uma mesada para os políticos que apoiavam o governo, por isso o esquema foi batizado (por quem?) de “mensalão”. Não lembro de os envolvidos negarem a origem espúria do dinheiro, o PT sempre negou o pagamento mensal, e acredito que é isso que Lula faz quando diz que o mensalão não existiu, ele quer dizer que não houve o pagamento mensal. Mas afinal, a que tipo de estado de coisas no mundo a expressão ‘mensalão’ se refere?

Há basicamente duas coisas: a) para o PT, ‘mensalão’ é a acusação de que o partido tenha usado dinheiro de caixa dois para comprar votos de parlamentares. Dinheiro esse, pelo menos de acordo com o que eu entendi sobre tudo que se publicou sobre o caso nos últimos tempos, veio de empréstimos que de fato não existiram. A resposta é que o dinheiro veio de contratos fraudulentos entre empresas públicas e as agências do Marcos Valério, que, depois de pegar a sua comissão, repassava o dinheiro ao partido. b) o escândalo como um todo. Vou ser claro, o que o partido nega é o pagamento MENSAL, que de fato não foi provado, já que o partido usou o dinheiro para financiar campanhas (inclusive a do Lula? Isso ninguém perguntou, que eu sabia), não para comprar votos parlamentares. O que seria bem estranho, pagar para gente do partido e de partidos aliados votar nas matérias de interesse do governo. Isso eu acredito que não tenha acontecido. O esquema todo de esquentar o dinheiro usando empréstimos falsos, sim.

De certa forma, o esquema é menor do que querem nos fazer crer. Não dá pra medir o quão grande ele é, mas ele tem sua importância por duas razões: O PT sempre foi um arauto da honestidade e o escândalo mostrou que o partido não é diferente de nenhum outro; e foi articulado por pessoas importantes do partido, que possuíam papéis importantes no governo. Geralmente os escândalos políticos eram articulados por deputados e senadores visando enriquecer com desvio de verbas públicas. Aqui o buraco parece ser mais embaixo (ou mais acima), o objetivo dos desvios era a compra de apoio parlamentar, segundo a denúncia original. Mas basta ler o que se publicou sobre o caso para ver que não foi esse o caso. Por mais que Joaquim Barbosa tenha escrito que, sim, o PT comprou apoio parlamentar. Mas por ele ter escrito isso, não quer dizer que os eventos tenham acontecido. Quem dos parlamentares foi acusado de enriquecimento ilícito? Nenhum. Então pra onde foi o dinheiro? Segundo consta, foi para pagar despesas de campanha do PT e dos partidos aliados.

Tem ainda essa história toda de que o Lula disse que o mensalão não existiu. Na verdade, o que ele negou foi o pagamento da mesada aos parlamentares, não o esquema como um todo (clique aqui). O que a gente viu ser julgado foi apenas uma fatia do negócio, provavelmente, uma versão dos fatos. Jamais saberemos o que de fato aconteceu. O que a população, os jornais, e todo o resto (excluindo o PT) entendem quando ouvem ou leem a palavra ‘mensalão’ é o escândalo como um todo. No final das contas, o debate político que se trava em torno disso é sobre as coisas que a palavra engloba, que para os dois lados são diferentes.

Aqui tem um guia bem completo da história toda.

Vá se informar, Sônia van Dijck!

Eu fico realmente triste com isso, principalmente quando somos alvejados por fogo amigo. Mas fico revoltado quando a pessoa que escreve o texto comete histerias do tipo que a profa. Sônia cometeu. Não estou com a verdade, muito pelo contrário. Mas humildemente gostaria de mostrar, passo a passo, argumento por argumento, como seu texto está equivocado. Tais equívocos são fruto de desconhecimento, falta de bom senso, e falta de ética, pois revelam que ela não se deu ao trabalho de ir pesquisar sobre o assunto que está escrevendo, o que é grave vindo de uma professora universitária. O texto original está em itálico, meus comentários em formatação normal e entre colchetes.

Política Educacional do MEC: falar e escrever errado… … é o certo (Sônia van Dijck)

[O equívoco começa no título, se ela tivesse lido o capítulo em questão do livro “Por uma vida Melhor”, saberia que não se trata de escrita, e que se estivesse também informada sobre o que se fez em linguística nos últimos 100 anos saberia que não existe regra errada quando 90% de uma comunidade de fala segue essa regra.]

Custa-me crer nos absurdos que acontecem no Brasil. Mas, a verdade dos fatos é indiscutível: o MEC adota livro como objetivo de ensinar a falar e a escrever errado.

Não tenho o menor interesse em discutir conceitos de dialetologia ou de sociolinguística com os autores, pois sei que o projeto não obedece a interesses científicos, mas políticos. 

[Novamente o equívoco, não há nada de errado com a concordância, e o livro, pelo menos naquele trecho, não está ensinando a escrever. Não precisamos entrar no mérito sociolinguístico do problema, já que ela obviamente não o entende. Se tivesse outra intenção, que não fosse atacar o governo, talvez ela tivesse ido pesquisar e saberia que o ‘projeto’ é baseado nos parâmetros curriculares nacionais (PCN) elaborados nos anos 1998-2000 do governo Fernando Henrique Cardoso. Tais parâmetros, por sua vez, são baseados em estudos realizados, pelo menos, desde o final da década de 70 no país e foram baseados em CRITÉRIOS CIENTÍFICOS, frutos de anos de estudo. Agora você quer me dizer que a sociedade não quer um conhecimento que pagou para ter, é isso?]

Vi, em um telejornal, a Profa. Heloísa Ramos, corajosamente, adequando conceitos e princípios linguísticos para justificar o nefando projeto do MEC, e sua concordância com tão escandaloso equívoco. Não me interessa refutar os argumentos equivocados da Professora, pois ela é só instrumento da política educacional do governo petista e está sendo paga para fazer seu papel. 

[Esse trecho é engraçado, porque a autora do texto assume não ter argumento científico para rebater o que a autora do livro defende, que argumento da autora do livro está equivocado? Novamente, a sua atitude é dizer que temos na autora do livro uma defensora de um programa político do governo, quando de fato é um programa de estado, ou seja, ele não mudará se entrar outro governo, e não mudará, se amanhã alguém provar que a gramática universal está errada, não é moda acadêmica, ou existem modas que duram 40 anos e são consensuais na academia?]

Deixo que o Prof. Evanildo Bechara dê a lição que a Professora e demais autores não aprenderam na Universidade.

[Um gramático não é mais referência de como se ensinar a língua pelo menos há 90 anos, desde que Saussure afirmou que as explicações para os fatos linguísticos devem estar no próprio sistema. Para o Bechara a pesquisa deve ficar na universidade e a sociedade deve continuar a ser enganada, devemos continuar afirmando que a variação não existe, só existe uma forma certa de falar e escrever o português, já que para eles falar e escrever é a mesma coisa. Veja que o gramático é a autoridade para a profa. Sônia, não o linguista, aquele sujeito que era seu colega de departamento nos cursos de letras em que ela lecionou; pelo jeito ela nunca soube o que seu vizinho de porta na universidade pesquisava].

O que me interessa é chamar a atenção para o bem organizado projeto de condenação dos alunos que passam e passarão pelo sistema público de educação. Falando e escrevendo errado o vernáculo, os estudantes de hoje e do futuro não terão oportunidade no mercado de trabalho e nem de crescimento intelectual. Falando e escrevendo “nós pega o peixe”, eles jamais serão engenheiros, médicos, vendedores, advogados, porteiros, enfermeiros, professores, jornalistas, bancários e mais muitas outras profissões e empregos lhes serão impossíveis.

[Preciso repetir? O livro não está falando de escrita quando afirma que ‘os livro’ é aceitável, o quão difícil é entender isso? Sem falar no equívoco de se associar ‘crescimento intelectual’ com o uso da norma culta. Só pra constar, conheço gente que fala ‘menas’ e ‘teje’ com nível universitário]

Não tenho notícia de que haja ou tenha havido algum governo de algum país que planejasse e implementasse projeto tão cruel, como se isso pudesse ser apelidado de projeto educacional. O Brasil consegue ser surpreendente e nefasto com um discurso pretensamente politicamente correto.

[Se outros países têm implantado metodologias semelhantes eu não sei, mas sei que não se ensina inglês britânico nos Estados Unidos, que na França não se fala como se escreve e ninguém fica horrorizado com isso. O discurso não é pretensioso, acho que esse adjetivo serve para qualificar aqueles que acham que sabem do que estão falando e não estão.]

Com pompa e circunstância, o MEC do governo petista quer assegurar que os futuros cidadãos fiquem privados de empregos, de crescimento intelectual, de relações culturais; no futuro, o MEC deseja que os brasileiros estejam no estado de barbárie linguística e sejam incapazes de entender um edital de concurso, por exemplo; salvo se o edital informar que “os candidato deve apresentarem os seguinte documento”.

[Novamente a autora revela desconhecimento do que está falando, o livro busca justamente ensinar o padrão culto e livro nenhum diz o contrário]

Nem Hitler, com sua mente diabólica e homicida, realizou um projeto desse tipo para dominar a juventude nazista, ganhando simpatias e aplausos dos pouco letrados daquela época.

[Isso é argumento? Hoje em dia é lugar comum querer comparar qualquer atitude intolerante com o nazismo e com Hitler… opa, peraí, quem é o intolerante nesse caso? Quem não está aceitando a diferença, a mudança de paradigma?]

Com pompa e circunstância, em uma palhaçada do politicamente correto, o governo petista organiza um exército de futuros adultos privados de proficiência no vernáculo, cuidadosamente preparado no sistema público de ensino, que servirá aos interesses do estado brasileiro que está sendo forjado desde 2003, em conformidade com as lições Gramsci.

[Ah sim, porque dizer que todos os milhões de alunos que chegam na escola falando ‘os livro’ precisam ser chamados de burros, ignorantes, eles precisam passar a vida escolar toda ouvindo que tem algo de errado com a língua deles, só assim vão aprender a escrever e falar o português culto; parece que isso tem funcionado bastante bem, basta ver os resultados da evasão escolar, dos testes de leitura. E os PCN, heim? Deve ter sido invenção de algum petista infiltrado no MEC nos idos de 1999, os acadêmicos que trabalharam na formulação dos PCN? Todos petistas, aposto! Me explica (sim, sou doutor na minha língua e uso ela do jeito que melhor me aprouver!) como é que alguém pode privar algum indíviduo de proficiência no vernáculo, se o aluno nem precisa ir para a escola para aprender ele (ou aprendê-lo, se preferir)]

Revolução?! Não! O PT não faz revolução; molda a sociedade que deseja manipular contaminando o sistema público de ensino com sua proposição populista de “respeito” à linguagem popular e familiar e coloquial das camadas menos escolarizadas atualmente. O governo petista, calmamente, pretende criar milhões de brasileiros que, quando chegarem à vida adulta, serão incapazes de ler e entender um jornal, uma revista e, principalmente, um livro de História, escritos em vernáculo. Esses futuros adultos não terão competência para apreciar Machado de Assis, Graciliano Ramos, Drummond, Vinicius, Érico Veríssimo e outros. E os ilustres autores do livro perverso, como bons peões do governo petista, poderão perguntar: “E quem precisa apreciar a Literatura elitista, golpista, burguesa?” – “Por que os adultos do futuro precisarão ler um livro de História, se eles não terão direito a discutir os fatos históricos, pois viverão apenas com as informações divulgadas na forma de “os cidadão deve comparecerem ao comício da liderança nacional, para que todos escute as verdade a serem revelada.”

[Acho que isso já aconteceu e quem fez isso não foram os petistas, foram os militares, o Sarney, o Itamar, o FHC… é só ver os testes educacionais, o nível de leitura do pessoal que passou pela escola nos anos 70, 80 e 90. Aqueles que tem família estruturada, acesso a livros, esses se dão bem independentemente do método de ensino ou do professor, só que esses são a minoria, a escola nunca conseguiu manter o diferente, ela sempre o repeliu, não sou eu quem está dizendo isso, é a história, mas o que eu conheço de história da educação… alguém que passou grande parte da vida formando professores deveria saber].

Bem sei que as boas escolas privadas jamais cairão nessa farsa de ser válido ensinar a falar, a ler e a escrever errado, como princípio pedagógico. Quem puder colocar seus filhos em boas escolas particulares, terá salvo parte dos futuros adultos da barbárie linguística. Então a Literatura elitista, golpista e burguesa de Machado, Graciliano, Drummond, Érico, Cecília Meireles e outros ainda terá alguns leitores. Jornais e revistas elitistas, golpistas, burgueses, que usarem a correção da Língua Portuguesa ainda poderão ser lidos e as notícias serão compreendidas por alguns futuros adultos.

[Ainda bem que tem gente que tem dinheiro nesse país, senão estariam ralados, né? Eu queria saber o que é ‘barbárie linguística’, fiquei curioso, sou doutor em linguística e desconheço esse conceito]

Não resisto e mando um recado para a ilustre Profa. Heloísa Ramos e demais autores: vocês ouviu os galos cantar e não sabe onde está os galo. Vocês nada sabe de níveis de linguagem. Vocês não entende nada da função da escola. Mas, vocês compreende perfeitamente esse meu recado escrito no dialeto do MEC petista, usado no livreco de ocês. Se vocês quiser me responder, por favor, escreva na Língua Portuguesa que seus professor dos tempo antigo e ultrapassado tentaram ensinar a vocês.

[“Vocês nada sabe de níveis de linguagem. Vocês não entende nada da função da escola.” Pois bem, dona Sônia, com essa afirmação a senhora insulta todos aqueles que todos os dias ensinam aos seus alunos nos cursos de letras a fazer justamente o que a profa. Heloísa Ramos pôs em prática. A senhora insulta o Prof. Ataliba Teixeira de Castilho, curador do Museu da Língua Portuguesa, coordenador do maior projeto de estudo da gramática da fala no planeta, o projeto NURC (Norma Urbana Culta) que mostra justamente que mesmo os falantes ditos cultos (com nível universitário e residentes em centros urbanos) não seguem as normas que as gramáticas prescrevem. Eu custo a entender como uma professora universitária pode ser tão dogmática a ponto de não aceitar uma mudança de paradigma na educação. E nem é uma revolução, já que se está apenas mostrando que há duas formas de se fazer a concordância nominal e verbal, uma tem mais prestígio que a outra, por isso uma é o padrão e a outra é a “errada”, mais daí provavelmente devemos ter uns 190 milhões de brasileiros falando errado nesse momento. A senhora insulta todos os acadêmicos que passaram anos de sua vida escrevendo artigos e livros defendendo justamente o que tem sido posto em prática, e nem é só pelo livro da profa. Heloísa, se a senhora estivesse melhor informada, saberia. A senhora insulta a inteligência dos acadêmicos e o próprio investimento que a sociedade fez nos últimos trinta anos em pesquisas sobre o ensino de língua portuguesa. A depender da senhora, podemos queimar todos os livros, teses, artigos, dissertações que foram escritas defendendo e mostrando que não há nada de errado com ‘os livro’ e construções similares, muito pelo contrário, já que estão todos errados, e a senhora e o Bechara estão certos?]

Segundo François Lyotard, linguagem é poder. A equipe de autores desse maldito livro sabe disso; por isso, aceitou servir de instrumento para o governo petista. Com seu tristemente brilhante trabalho, os ilustres autores tornaram o tarefa do professor de português uma atividade inútil: ninguém precisa ir à escola para aprender a falar e a escrever “a gente fomos, mas o pessoal saíram”.

[Exatamente, a língua é poder. Todos sabem que a invenção de regras por parte dos gramáticos é só mais um instrumento de poder. Ou vai me convencer de que existe alguma argumento razoável para termos tantas formas de escrever os ‘porquês’? Fala e escrita são coisas diferentes, fato. Não é teoria, não é politicamente correto, não é moda. Escrevemos e falamos diferentemente, fato. Há duas formas de se realizar a concordância nominal, fato.]

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O texto da Profa. Sônia está publicado aqui. O blogue não informa se ele foi publicado em papel ou originalmente em outro site.