Muita gente critica as definições das noções gramaticais usadas pelas nossas gramáticas tradicionais e repetidas por gramáticas escolares, livros didáticos e apostilas de concursos. Não dá muito trabalho perceber que as definições de sujeito e predicado apresentam problemas conceituais ou são definidas de maneira vaga, usando termos que não são definidos pelo gramático (ver Perini, Para uma nova gramática do Português; ou Azeredo, Gramática Houaiss da língua portuguesa).
Alguns exemplos:
Cunha e Cintra (: 137) “Sujeito é ser sobre o qual se faz uma declaração; o predicado é tudo aquilo que se diz do sujeito”.
Embora, posteriormente, eles identificam a estrutura da oração como a união de um SN e um SV.
Bechara (MGP: 409) “Chama-se sujeito à unidade ou sintagma nominal que estabelece uma relação predicativa com o núcleo verbal para constituir uma oração”.
Bechara propõe algumas estratégias de identificação: a) estabelece concordância com o verbo do predicado; b) normalmente aparece à esquerda do verbo; c) responde à pergunta: quem ou o que.
Azeredo (Gramática Houaiss: 150): “Palavras e sintagmas são as únicas espécies de unidades aptas a desempenhar uma função sintática. Para tanto, é necessário que estejam contidas numa construção maior a cuja base se anexam. Se esta construção é uma oração, sua base é o SV, que funciona como predicado (Este relógio pertenceu ao meu avô), e o SN anexo a esta base funciona como sujeito (Este relógio pertenceu ao meu avô).”
Nas escolares:
Savioli (Gramática em 44 lições: 7): “Sujeito é o termo da oração que funciona como suporte de uma afirmação feita através do predicado”.
“Predicado é o termo da oração que, através de um verbo, projeta alguma afirmação sobre o sujeito”.
Também sugere os critérios que Bechara usa para identificar o sujeito.
Bechara (Gramática Escolar da LP: 15): Não faz uma definição clara:
“Sem verbo não temos oração, já vimos isto. Cabe agora insistir em que a sua natureza semântica (de significado) e sintática (de relação gramatical) determinará se a predicação da oração é referida a um sujeito, ou não. Esta referência se chama predicado da oração e o termo referente dessa predicação se chama sujeito:”
Marlit deu um livro ao neto.
Sujeito predicado
Faraco, Moura e Maruxo (Gramática: 388)
“Sujeito é o termo sobre o qual se declara algo. O verbo da oração concorda com o sujeito em pessoa e número.”
“Predicado é tudo aquilo que se declara a respeito do sujeito. Não existe oração em predicado.”
Mas afinal, precisamos dessas definições no ensino da língua portuguesa? Qual é a utilidade de se definir o que são sujeito e predicado? Seria possível uma compreensão intuitiva dessas funções? Não seria mais fácil identificá-las com as posições estruturais de SN e SV, como propõe Azeredo, e que, em outros termos, Bechara e Cunha e Cintra trazem também?
Claro, nem todo SN ligado semanticamente a um SV é seu sujeito, nem mesmo a relação de concordância, para Perini (Gramática do Português Brasileiro) é um critério seguro.
Então, o que seria? A combinação das três coisas: a) relação de significado: termo do qual se predica uma propriedade; b) relação de forma: concordância de número e pessoa.
Não sei… me parece que os alunos identificam a função de sujeito muito mais a partir da intuição do que pelo uso racional das noções. Claro, sem mencionar a exemplificação: nos exercícios só se oferecem exemplos que se encaixam nas definições.