Nada de novo no front

Nada de novo no front é o título de um filme que eu ainda quero ver um dia. dizem que o livro é muito bom. Só sei que se trata de um grupo de jovens alemães que é convencido por um professor nacionalista a se alistar no exército. Mas os horrores da guerra fazem com que os jovens mudem de opinião sobre conflito.

Tem dias que a gente desanima. Como convencer alguém a mudar de opinião na política? Isso sequer é possível?

Não sei em que ponto eu mudei minhas convicções políticas e religiosas. Sei que um dia eu acordei e pensei que não podia continuar acreditando nas coisas em que acreditava. Claro que algumas leituras foram fundamentais, e eu acho que é isso um pouco que me move a continuar escrevendo, essa crença de que a gente pode mudar as pessoas.

Mas às vezes nada há para ser mudado. Tem gente que se agarra tão fortemente a uma crença que os fatos lhe são indiferentes. A cloroquina não funciona contra a covid. Ponto. Não existe mais debate. Meses depois, se há algum consenso sobre essa doença, parece ser esse. Mas as pessoas preferem ouvir ginecologistas e presidentes da república a ouvir o que dizem os especialistas.

Como alguém pode acreditar que médicos estão negando tratamento às pessoas só para contradizer o presidente? Como alguém pode acreditar que a pandemia é uma conspiração mundial? Como se convence alguém do contrário?

Como as pessoas parecem preferir o conflito? Estamos no mesmo barco, e continuamos a dar tiros contra o casco, tentando acertar os adversários.

Lembro uma vez num desses encontros familiares em que alguém disse com plena convicção que o Lulinha (filho do Lula) tinha comprado uma ilha. Eu comecei a rir. Foi uma reação natural. E então eu perguntei ao sujeito: “Escuta o que você tá dizendo. Você acredita mesmo que o filho do Lula comprou uma ilha?” Ele não me respondeu. Vai ver preferia repetir aquilo porque era algo que todo mundo falava sem perceber o tamanho gigantesco da bobagem que repetia. Às vezes a bobagem é conveniente às nossas crenças.

Há quem chame isso de “viés de confirmação”. É o que acontece quando estamos apaixonados. A gente só vê as qualidades, não vê os defeitos. Só vê aquilo que cabe dentro do nosso sonho de companheir@. A mesma coisa acontece na política.

Bertrand Russell defendia que a gente deveria discutir os assuntos políticos desapaixonadamente. Mas eu cada vez mais acho que isso é impossível, pois a arena política brasileira há muito esqueceu o seu norte, que é o bem comum, e está só preocupada com o bem individual e a briga pelo poder.

Aliás, foi essa briga mesquinha pelo poder que nos trouxe a esse inferno. Tivéssemos um presidente de verdade já poderíamos estar voltando ao normal. Ou entrando no “novo normal”.

Pessoas morrem todos os dias

Pessoas morrem todos os dias. Um ricaço se espatifou com seu carro. Policial alvejou um assaltante foragido. Criança levou um tiro na cabeça em comunidade no Rio de Janeiro. Idosa morreu de Covid. As pessoas morrem todos os dias. Nas últimas 24h foram mais 1252 pessoas morreram de coronavírus.  Sem colocar na conta a média de pessoas que já morrem por outras causas. Umas 78 de câncer; 92 de acidentes no trânsito; 153 vítimas da violência… e assim vai. As pessoas morrem todos os dias.

O João, o Pedro, O Dudu, a dona Maria, o Marcos, irmão da Cristina, filho da Maria Cleusa, sabe? Não sei. São nomes sem referente. Vejo as fotos. Não sei quem são essas pessoas. Podem muito bem ter sido inventadas. Marcos, diz aí um número, e lá vai o prefeito de Campinas colocar na estatística de mortes por Covid mais 30 e tantas e assim vai, Brasil afora. Só por politicagem, pra prejudicar esse presidente competentíssimo.

Quero chorar. Quero chorar porque o Dudu poderia ter sido o primeiro cientista brasileiro a ganhar o Nobel de Medicina. Mesmo que não fosse, poderia ter sido o primeiro da sua família a ter uma faculdade. E mesmo que não fosse, poderia ter sido apenas um bom cidadão, o que nesse país já é grande coisa. Mas não choro. Semana que vem outro Dudu vai ser morto.

Fazemos piada sobre engordar, enquanto tem gente sem emprego e sem comida. Podemos escolher que bolo vamos fazer essa semana, enquanto tem gente que não tem um quilo de açúcar e aprende a tomar chá e café amargo na marra.

Alguém reclama que não aguenta mais ficar sem sexo. No Twitter uma jovem de 20 e poucos anos rateando que está há dois meses sem transar. Não sabe mais o que fazer. O que faremos se houver um colapso na internet, nos satélites de transmissão de tevê ou se as torres de celular derreterem como aquele creme gelado instantâneo que o McDonalds chama de sorvete? As pessoas querem ser entretidas, para se esquecer daquelas que padecem e morrem nos hospitais. Estimo que o consumo de séries e filmes meia-boca nas dezenas de plataformas de streaming esteja no seu ápice. Precisamos nos divertir enquanto as pessoas morrem.

Afinal, pessoas morrem todos os dias. O que são umas mil e poucas a mais?

Eu queria

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Room in New York, Edward Hopper (1932)

Eu queria ficar em casa porque quero ficar em casa, não porque sou obrigado a ficar em casa. Eu queria aprender a fazer pão com fermentação natural não porque agora eu tenho mais tempo pra isso, mas eu quero fazer pão com fermentação natural para entender o tempo que o pão leva para crescer, sem os atalhos que a ligeireza do cotidiano nos obriga a tomar usando fermento tratado quimicamente para crescer mais rápido, porque cozinhar é entender o alimento e suas transformações, não juntar ingredientes numa tigela e torcer para que saia alguma coisa comestível dali de dentro.

Eu queria fazer um diário, porque eu sempre quis fazer um diário, não porque, sem muita ideia do que escrever, muita gente resolveu fazer um diário. Mas eu já disse que abandonei o diário (porque eu sempre abandono os diários que começo) e agora estudo o que eu estudaria de qualquer jeito e escrevo as coisas que escreveria de qualquer jeito, porque é isso que a gente que lida com a palavra faz: lê e escreve.

A sociedade me paga também pra isso e é isso que sigo fazendo, nessa faina infinita de produzir artigos e dar pareceres sobre os artigos dos outros. Eu queria fazer um diário porque eu gosto dos diários, porque é uma forma da gente se conectar com outras realidades, outros universos e perceber que está todo mundo junto nessa e que por mais que seja mais gostoso passar o confinamento numa cobertura em Ipanema, o escritor sofre as mesmas angústias que eu sofro num apartamento sem sacada em Curitiba.

Ainda sinto falta dos bifes à milanesa do Levrero, e das suas intermináveis tentativas de configurar programas inúteis em Visual Basic. Eu poderia falar das inúmeras horas perdidas tentando passar uma missão difícil de Command & Conquer, mas eu não jogo mais vídeo-game. Tentei, nas primeiras semanas do confinamento jogar Forge of Empires online. Nunca fui bom com vídeo-games. E ninguém quer saber como eu passo meus dias tentando não atrapalhar o processo de alfabetização da minha filha mais velha e preocupado com a mais nova de dois anos que, tudo indica, está atrasada na aquisição da língua falada. Tipo, muito atrasada.

Queria economizar porque eu aprendi a economizar e a administrar melhor as contas da casa, não porque agora estou gastando menos com várias coisas, não porque não gasto mais com coisas que antes gastava. Gasto menos com gasolina, porque não saímos. Gasto menos com restaurantes, porque comemos bem menos fora.

Arriscamos uma pizza e uma comida japonesa nesses dias (o dia dos namorados agora é também o dia nacional da comida japonesa), mas logo a gente fica se perguntando: Lavaram as mãos? Ninguém espirrou ou tossiu em cima da comida? Esses peixes são frescos e foram bem higienizados? O que eu faço com a caixa de papelão, se o papelão tocou na comida? E essa barca de plástico, estava limpa? Mas o Hot Filadélfia está tocando no plástico… melhor não pensar demais… e o pepino! meus deus, será que lavaram direito o pepino? Tomara que o vinagre da saladinha de pepino agridoce mate o que tiver que matar.

Queria economizar com farmácia vendo as minhas filhas pegarem menos viroses e alergias, não porque são obrigadas a ficar em casa longe de outras crianças, de quem pegariam viroses, ou longe de lugares em que seriam expostas a poluentes e outros materiais que poderiam desencadear nelas alergias respiratórias. Queria que a saúde delas se reforçasse pelo caminho natural, não por estarem menos expostas a vírus e bactérias e a todas essas outras coisas que fazem as crianças terem que tomar vacinas e xaropes.

Queria ficar sem ver meus amigos porque naquele final de semana não deu para ver meus amigos porque a preguiça falou mais alto ou porque apareceu outro compromisso, não porque agora ninguém pode mais ver os amigos, porque mesmo se a gente estiver confinado, ao nos vermos deixamos o confinamento e vamos expor uns aos outros e aqueles com quem temos contato em casa.

Eu queria tanta coisa. Mas no final do dia a gente guarda esses anseios todos sob o travesseiro e tenta dormir com eles te atrapalhando o sono.

É uma m* de uma pandemia!

Começo explicando o título. Quem me conhece sabe que gosto de palavrão, de falar e de pensar sobre eles. Eles me parecem ter uma força expressiva que nenhum outro vocábulo traz. Mesmo um atenuamento como eu usei no título já é mais forte do que só usar uma exclamativa, eu diria.

É que eu tenho sentido que muita gente não tem sentido a gravidade da coisa. Fui no mercado na semana passada comprar alguns víveres e tinha até loja de material para limpeza de piscina aberta (uma necessidade premente dessa época, né, convenhamos! – só que não).

Tá, eu até nutro uma simpatia pelo pobre comerciante que, de repente, deve viver só disso e precisa manter a porta aberta para pagar as contas. Nada contra pequenos comerciantes, tenho parentes que são e sei dos seus dilemas. Mas eles não percebem que essa urgência deles em abrir as portas se deve à incapacidade dos nossos governantes em lhes oferecer alternativas ou uma simples ajuda legislativa para o enfrentamento da situação.

Juros menores ou subsidiados, empréstimos a perder de vista, descontos em impostos (isenções para alguns casos?), subsídio para folha de pagamentos… há tanta coisa que poderia ser feita. Foda-se o ajuste das contas públicas! Foda-se a responsabilidade fiscal! É uma merda de uma pandemia! Que se imprima dinheiro! Que se emitam títulos da dívida pública! Aposto que o Itaú, o Safra, a XP, o Santander e os investidores de classe média alta os comprariam num piscar de olhos.

E se por um lado a gente tem esse povo louco por voltar ao normal (Não existe mais aquele normal, moçada, desculpa!), tem outro povo louco por fazer alguma coisa em casa: as escolas. A escola brasileira se alimenta da lógica do conteúdo, da matéria, da nota, do resultado, da lição da casa. É uma espécie de urgência quase-capitalista: a educação da meta e do resultado, do número, da produtividade.

Entendo a preocupação dos pais com os filhos desocupados em casa, principalmente uma faixa etária que, se ficar à vontade, vai passar o dia na frente da televisão, no Youtube ou nos serviços de streaming.  Mas se pensarmos bem, pra quê essa urgência? Aonde é que precisamos chegar tão logo? A porra do mundo está parado!

 

Deus é brasileiro e anda do meu lado

Somos abençoados, não há dúvida disso.

Na dúvida, que por ventura faz você dar um passinho pra trás, vai lá e ajoelha na frente do presidente e faz uma reza qualquer que a tua religião diz que você tem que me fazer pra ver se o homem faz alguma coisa, porque, mesmo que você creia piamente que ele está fazendo o que tem que fazer, a gente dá uma rezada que é pra ajudar e garantir que o homem lá de cima está de fato olhando por nós.

Não vai dar nada, nunca dá. Os hospitais estão vazios, vejam! Não existe epidemia! É uma invenção da mídia. Todos os canais de televisão se reuniram em conlunio: vamos passar a mostrar imagens de enterros e confinamentos ao redor do planeta como se fossem verdadeiros, mas todos foram filmados em computação gráfica no Projac, os repórteres falam em estúdios com fundo verde, e as imagens de fundo são inseridas em cromaqui. É a fabricação da histeria. O crime perfeito!

As companhias aéreas são cúmplices, todas, absolutamente todas, malditas comunistas ávaras pela verba das viagens infindáveis dos presidentes petistas que adoravam fazer turismo na África, no Oriente Médio e nos países socialistas do Caribe (Cuba e Venezuela, principalmente). Perderam a mamata!

Tem um remédio aí que o presidente tá dizendo que é batata.Tomou curou. Mas também tem um monte de médico dizendo que não sabem direito se funciona ou não. Por via das dúvidas, acho melhor tomar, que é pra garantir, né? E pra ajudar ele mandou o exército produzir milhões e milhões dessas pílulas, que é pra garantir que todo mundo vai ter. É uma gripezinha, né, mas quem pegar vai estar garantido. Só a cloroquina salva!

Tem um povo fazendo carreata pra que não tenha quarentena. Eu não sei porque tão tudo lá de máscara se é só uma gripezinha, vai ver Deus não tá tão assim do lado deles. Porque eles acham que não precisa de quarentena, mas precisa de máscara e da tal da cloroquina abençoada que só Jesus pra inventar um negócio desses.

A gente é o país do futuro e o presidente tá consertando o país e a corrupção acabou. O povo só não vê porque a Globo não mostra. Os jornais são todos comunistas também. Não leio nem que eu tivesse dinheiro. Jornal é só pra embrulhar peixe e por no assoalho do carro depois de lavado. Tudo uns mentiroso safado.

Porque, olha, se esse povo tudo se juntando nas feiras por aí, nas portas de banco e  portas de repartição pra fazer CPF não tiver couro duro… acho melhor a gente rezar mesmo, fazer uma novena, um jejum, um despacho…

Fique em casa!

Por mais que governo, médicos, autoridades em geral falem de boca cheia sobre o vírus, ninguém sabe realmente o que fazer. Tem duas narrativas em jogo: nos isolamos para diminuir a contaminação e não precisa se isolar, pois a epidemia vai passar (as pessoas morrem, fazer o quê?). Isso tudo é bem claro. De um lado está 99% da classe médica, especialistas em saúde pública, biólogos e gente sensata em geral.

Contra as medidas de isolamento está nosso presidente, um cara especialista em nada, e alguns dos seus ministros, inclusive um médico, o Osmar Terra. Ele divulgou a opinião de um epidemiologista americano, para quem a melhor solução seria isolar apenas os vulneráveis e deixar o restante da população se contaminar. (a entrevista com o especialista está aqui) É uma solução possível, claro. O fato de ninguém (na porra do mundo todo!) ter tentado nos diz um pouco sobre a sua viabilidade. Não é como se fosse uma solução mágica que estivéssemos cegos a ela.

Nessa disputa de quem está certo ou quem está errado tem muito barulho, muitas acusações vazias  e muita mentira. Queiramos ou não, o presidente virou uma figura de liderança e o que ele diz influencia as massas (tanto ele quanto seu séquito de apoiadores de carteira cheia). Ele é um difusor ideológico dessa gente, que de repente se viu na situação de ter que pagar para que seus funcionários fiquem em casa, o que para um capitalista é um completo absurdo. Por isso, cada vez que ele vai para a televisão falar (e é o presidente mais tagarela de que tenho memória), ele é capaz de desmobilizar um pouco aqueles que estavam em casa de boa vontade.

Me sinto um idiota a cada vez que olho pela janela e vejo alguém se exercitando na rua. Como alguém disse por aí, estou deixando a cidade vazia para esse animal passear. Sei que muita, mas muita gente não pode parar de trabalhar, senão coisas essenciais nos faltariam. Mas também muita, mas muita gente não precisaria estar andando nas ruas a passeio.

Talvez sejamos o povo escolhido e nada de muito grave vai nos acontecer. Já estamos batendo na casa dos mil mortos e se der tudo certo não vai subir muito. O fato é que só tem subido. Como a curva vai se prolongar é outra história e tenho cá a impressão de que esse papo estatístico todo soa como grego para a população em geral, que prefere ouvir o Datena ou qualquer outro jornalista gritar suas banalidades. Que porra de curva o quê, não conheço ninguém que morreu ainda! Com essa desconfiança generalizada na imprensa, é bem capaz de o sujeito achar que a Globo e o João Dória estão inventando o número de mortos e teatralizando funerais só pra desmoralizar o presidente.

Com a nossa indisciplina quase generalizada e nossa falta de bom senso pública, o negócio é torcer mesmo para que seja só uma gripezinha. Se na Itália e na Espanha se chegou a quase mil óbitos por dia, dá pra imaginar o que aconteceria no nosso país, com hospitais e recursos escassos.

Mas aparentemente o povo não está tão preocupado assim, é só ver as imagens do Mercado Público de Porto Alegre. Aparentemente comprar o peixe está mais importante do que a saúde pública. O que, na minha modesta opinião, é reflexo desse descompasso entre as autoridades: uns acham que precisa de confinamento, outros acham que não.

Isso tudo abre espaço para o individualismo: o meu primeiro. Pois se o governo e autoridades não agem para ajudar empresários e o povo a ficar em casa, ele se obriga a sair pra rua buscar o seu sustento. Sem contar que tenho cá pra mim que o povo ainda não entendeu a gravidade da situação.

Nada é tão urgente assim

Fiquei duas semanas sem postar. Foram as duas primeiras semanas de confinamento. Acho que ninguém esperava que ele chegaria em algum momento. Víamos as notícias da China, da Itália, da Espanha e elas nos pareciam mensagens distantes de outro planeta. Tá ligado? Era, pelo menos, como eu me sentia. O semestre tinha iniciado, eu levava minha filha para a escola todos os dias, escrevia, lia, fazia compras para a semana… eu nem me liguei de comprar álcool em gel no momento em que se cogitou parar as atividades.

A forma despreocupada com que nosso governo deixava as pessoas entrarem no Brasil vindas de países com contágio hoje me dá a impressão de que não fizemos nada para conter a entrada do vírus aqui. Basta ver que os primeiros casos são de pessoas que vieram da Europa, Estados Unidos e Oriente Médio. Adiantou por em quarentena aquele pessoal que foi trazido da China? Não adiantou nada e agora o boi fugiu com as cordas, se eu estou me lembrando direito do ditado.

Mas o confinamento veio e a vontade de se apegar à rotina foi tão grande que me peguei pensando em formas de manter contato com os alunos durante esses dias, embora eu soubesse cá comigo que ele não seria de apenas 15 dias. Eu já tinha visto os gráficos da evolução da doença por aí e os cenários projetados eram terríveis (afinal, não somos alemães ou coreanos). Por que, afinal, querer dar aulas online, fazer reuniões… que urgência é essa? Na burocracia universitária os prazos continuam correndo como se estivesse tudo normal, e os editais estão se fechando, projetos precisam ser avaliados, artigos publicados, relatórios de pesquisa enviados… só parou a aula mesmo, no final das contas.

A escola da Gabriela, minha filha mais velha, de 6 anos, se apressou em enviar pequenas lições diárias. É um engodo. Quem é o pai que está conseguindo fazer seu filho sentar toda tarde e estudar como se fosse uma aula normal? EU não consigo. Fazemos na medida que conseguimos, o que significa que ela já está atrasada uns 4 dias no cronograma. Mas vá lá, é uma forma de dar um senso de normalidade pras crianças.

Entendo um pouco essas tentativas de manter a rotina e a normalidade, precisamos delas. Todo mundo gosta de folga e descanso, mas ficar muito tempo parado, ainda por cima trancado dentro de casa, nos faz mal. Precisamos se movimentar, ver os amigos, gastar dinheiro, comer fora e fazer essas coisas todas que dão um pouco de urgência e necessidade. Mas não dá pra fazer agora, e o desespero de uns comerciantes e pessoas para que se abra o comércio é um pouco por isso, afora o problema comercial óbvio.

Mas como disse o Átila Iamarino no Roda Viva da última segunda-feira, aquele mundo de janeiro não existe mais. Os shoppings podem até abrir. Quem é que vai se sentir seguro pra ir lá agora? Pode até abrir o Madero, mas você vai lá? Eu é que não. Pode até abrir a Havan, mas a compra de lençóis e toalhas pode esperar.