Sobre as redações do ENEM

charge-enem-2Em outros tempos eu me surpreenderia com a celeuma que se criou em torno da correção das redações do ENEM. Hoje penso que não se poderia esperar nada diferente. A imprensa, pelo menos uma parte significativa dela, tem pecado em fornecer ao espectador uma opinião mais balizada sobre os fatos. Veja-se o caso da tragédia em Santa Maria. Nas notícias sobre o caso, o tom geral é “quem vai pra cadeia?”. No final, o que veremos, provavelmente é um pequeno retrato do jeitinho brasileiro de fazer as coisas. Em cidades pequenas todo mundo se conhece, todo mundo tem um amigo em alguma posição de poder que pode falar com outro alguém para afrouxar regras e liberar licenças, mesmo que irregularidades existam. O bom e velho “não dá nada.” Não veremos uma reflexão mais séria sobre as causas e formas de evitar esse tipo de coisa no futuro.

Não tem como esperar que os jornalistas entrevistem alguém que dê uma opinião mais gabaritada. A postura do Marcos Bagno, só dificulta isso, por exemplo. Sua arrogância só pesa contra a academia. Provavelmente ele é o linguista mais conhecido do país. Deveria mostrar mais simpatia. Não sair esbravejando que os jornalistas da Globo são imbecis e que deveriam ser os livros dele. Mesmo o Sírio Possenti (que possui um blog no portal do Terra), por vezes assume uma postura irônica. O artigo que ele escreveu sobre o assunto é uma exceção, eu diria, no seu tom costumeiro. Qual é a imagem que se passa da academia com essa atitude? De qualquer forma, a matéria sensata que saiu no G1 ninguém menciona.

Há duas questões que envolvem a correção das redações: a) houve erro, claro, em dar nota máxima para redações que apresentaram erros ortográficos; b) não há como zerar as redações que fugiram parcialmente do tema. Tentarei explicar essas duas coisas.

É claro que uma redação que apresente erro de ortografia não deveria receber nota máxima. Agora, foi um erro apenas, ou dois? O texto como um todo, como ele se apresenta? Considerando-se os outros critérios, como ele seria avaliado. Essa reportagem não diz isso. O máximo de especificidade que se lê é “uma redação apresenta dois erros de concordância”. Suponha que o problema fosse apenas esse. Que nota a redação tiraria se os pontos tivessem sido descontados? Digamos que 950 de 1000 possíveis? Como o ENEM é uma avaliação nacional, não sei até que ponto ela gera uma classificação e um ordenamento dos “candidatos” (candidatos a quê?), então minúcias não fazem diferença. Pelo menos não a diferença que fazem em um vestibular padrão em que décimos são fundamentais para classificar candidatos muito bem preparados para cursos com concorrência alta. Do meu ponto de vista a reação foi exagerada. Em quantas redações isso aconteceu? Zero vírgula tantos porcento de milhões de redações…

Agora o problema (b): as redações deveriam de fato ter sido zeradas? Segundo essa reportagem, que muito bem detalha o processo da correção, não. A fuga do tema é parcial. Se os sujeitos queriam mesmo ter zerado a prova e mostrado que os corretores não leem a prova, deveriam ser escrito apenas a receita de miojo ou apenas o hino do Palmeiras. Do modo como escreveram, o corretor irá avaliar como fuga parcial. Dará a nota mínima para o domínio do tema, para quesitos de coesão e coerência e estruturação do texto. Os corretores partem do princípio que ninguém que participa do processo está ali de brincadeira, portanto avaliam a redação da forma mais séria possível, considerando dificuldades eventuais que as pessoas possuam no trato com a linguagem escrita. O sistema seria falho se o sujeito tivesse escrito apenas a receita do miojo e tivesse tirado nota 700-800 por exemplo, o que mostraria que a nota foi aleatória.

Um parêntese: As pessoas não entendem que vestibulares existem apenas porque a demanda é maior do que a oferta. Se nos vestibulares se desse zero para toda redação que apresenta fuga parcial do tema, cursos com concorrência pequena não conseguiriam fechar turmas. O vestibular é essencialmente um processo classificatório. A conclusão do Ensino Médio habilita qualquer um a entrar em um curso universitário. Fazer vestibular para cursos que tem concorrência de 1-1, ou menor que isso é uma perda de tempo e desperdício de dinheiro.

As charges que se produziram, as reações dos jornalistas e opinionados por aí são naturais; procuradores enraivecidos moverão ações contra o MEC. Todos estão no seu direito. Nenhum sistema de correção ou avaliação é 100% seguro, pois existe sempre o elemento humano, imprevisível. Nos escandalizamos com vendas de vagas em vestibulares de medicina. Ninguém falou em punir aqueles que compraram as vagas (gente de poder aquisitivo alto, claro), apenas aqueles que fraudam o processo. Pagar por uma vaga em uma universidade não é fraudar o processo também? Já o erro humano, ou a ingenuidade de algum corretor, que acreditou não ter problema em dar nota máxima para uma redação que apresentasse apenas um ou dois erros de ortografia, é natural e sempre irá acontecer. Nossa tendência natural de generalizações irá concluir que todos os corretores são imbecis e o processo todo de avaliação é uma bosta. Um assassino que saia de um julgamento declarado inocente nos dará a impressão que todo o sistema judiciário é uma piada. Simplesmente esquecemos de todos os outros 99% dos casos em que ele funciona e condena assassinos. O objetivo dos “candidatos” que tentaram mostrar que a avaliação é falha não foi bem sucedido, como tentam mostrar certas reportagens. Na verdade, o que essa pequena experiência nos mostra é justamente o oposto. Que os critérios, por mais que o elemento de subjetividade seja inevitável, foram bem aplicados e as redações foram avaliadas com cuidado.

A Gramática é que é a dona da verdade

Isso é o que diz o sábio Carlos Eduardo Novaes. O texto é no mínimo engraçado e repete uma série de preconceitos que não ultrapassam um tratamento raso da questão. Dá até para usar como exercício para que calouros de Letras possam contra-argumentar.

Vou citar dois trechos do livro de Carlos Alberto Faraco (2008, Parábola) sobre o problema da norma culta:

O reconhecimento “…da diversidade contribuiu também para refinar … a percepção de que do ponto de vista exclusivamente linguístico, os diferentes modos sociais de falar e escrever a língua se equivalem: cada grupo de falantes realiza a língua por normas diferentes, mas nenhum deixa de ter suas normas.” (p. 54)

Eu não sei de onde se criou esse imaginário que afirma que os falares que não seguem a gramática normativa destroem a gramática da língua e são o caos (talvez daquela mentalidade dos séculos XVIII e XIX que afirmava que a mudança era fruto de desleixo e ignorância dos falantes). Todo falante segue algum tipo de norma ou regra, isso é um fato. Não dá para falar uma língua sem seguir alguma regra.

Ainda Faraco: “Alguém disse que, no nosso país, toda polêmica termina na gramática. Isso quer dizer que, à falta de argumentos para sustentar o debate, nosso costume é apelar para o trambique retórico, ou seja, tentar desqualificar o oponente apontando-lhe “erros” de português. Em outros termos, quando nos faltam argumentos, nosso último recurso é xingar o adversário de ignorante, ‘pois nem a língua sabe falar bem’.” (p. 65)

Interessante, não? Às vezes tenho a impressão que o Bagno está certo, o debate está sendo conduzido por não especialistas, o que só contribui para a desinformação.  A revista Isto É publicou matéria no dia 25/05/2011 entitulada “O assassinato da língua portuguesa“. O artigo tenta desqualificar Bagno, dizendo: “Bagno afirma que a linguagem reproduz desigualdades sociais – como se isso fosse uma descoberta assombrosa.” Claro que a descoberta não é dele, isso sempre foi um fato, não uma descoberta. Cristóvão Tezza é colocado como a voz dissonante entre os “especialistas” que criticam o livro, são eles: Cristóvão Buarque, Nélida Piñon, Fernando Morais, Ana Maria Machado e Marcos Villaça. Talvez o MEC devesse convidá-los para fazer parte da comissão que avalia os livros didáticos, já que eles parecem entender mais de ensino de língua do que o Tezza e tantos outros defensores do livro, que são tidos como minoria. Só pra constar tem um quadrinho ao lado na reportagem “As trapalhadas de Haddad”: novamente estão politizando uma questão que não é política. É política em um sentido, mas não é político-partidária. Para a reportagem, o método do livro causa estragos à aprendizagem, já que manteria os alunos na mesmice e não ensinaria o português culto. Será que eles estão certos? Eu queria saber como jornalista aprende a escrever nos cursos de jornalismo pelo país afora, será que é em aulas de gramática tradicional, aprendendo regência e concordância, colocação pronominal, ortografia, uso do acento grave, etc. ou em oficinas de produção escrita? Fica a pergunta…

O senador Cristóvam Buarque, estranhamente tem defendido posições conservadoras em relação à questão. O argumento para a valorização da língua que a criança traz de casa não é o argumento do preconceito. É a simples constatação: falamos de uma forma e escrevemos de outra; há um português popular e outro dito culto (embora a passagem de um a outro seja gradual e não dicotômica). Há preconceito também, mas não é esse apenas o ponto. A escola sempre ignorou a fala e sempre tratou a fala e a escrita como coisas iguais. Não são, repito. Há muito tempo linguistas defendem que se discuta a oralidade em sala de aula. Luiz Antonio Marcuschi (Da Fala para a escrita) e Ataliba Teixeira de Castilho (A língua falada no ensino de português) são apenas dois exemplos.

Eu fico por aqui. Recomendo dois sites:

Stella Maris Bortoni-Ricardo , professora na UnB, tem reunido alguns textos interessantes no seu site.

– O colega e amigo Rodrigo Gonçalves, professor na UFPR, também reuniu alguns textos no seu site.

Em tempo: Marcos Bagno e Evanildo Bechara foram entrevistados pela Folha Dirigida. Achei engraçado que o Bagno criticou a ABL e chamou o Bechara de conservador. A folha perguntou ao Bechara como ele se defende disso, e ele disse simplesmente que o que o Bagno defende em seus livros são ideias antigas no estudo da linguagem. Quer dizer, o seu argumento é desqualificar o atacante, não o ataque. Modestamente há opiniões bem contestáveis em tudo que o Bechara fala. Me estranha também que a entrevista que o Bechara concedeu seja bem maior que a do Bagno. O que também é estranho é ninguém falar de outros linguistas que defendem propostas similares às do prof. Bagno, e não são poucos. Daí fica parecendo que ele é um exército de um homem só.

Um trecho da entrevista do Bechara:

“O senhor conhece a proposta de reconhecimento de um “português brasileiro”, defendida pelo professor Marcos Bagno? A argumentação do professor da UnB procede? Por quê?

Monteiro Lobato dizia: “Assim como o português nasceu dos erros do Latim, o ‘brasileiro’ nascerá dos erros do português”. Ora, é degradante para um país nascer da miséria de outro. Certa vez, no Colégio Pedro II, o professor Hermes Parente Fortes escreveu uma tese para ingresso na instituição defendendo a existência de um “português brasileiro”. E o professor Oiticica (José Oiticica), catedrático de língua portuguesa, o examinou. O professor Oiticica disse a Hermes Parente Fortes: “eu vou passar a acreditar nessa tal de ‘língua brasileira’ quando o senhor traduzir para ‘brasileiro’ a oração do Pai Nosso. A característica de uma língua é a sua traduzibilidade. Se mudamos uma palavra por outra, isso não é tradução. O Espanhol é muito parecido com o Português.”

Ele sabe que a definição de ‘língua’ é mais política que linguística, não? Espero que sim, mas não é o que ele diz. Se a referência dele em mudança linguística é o Monteiro Lobato…Fica aí uma traduçãozinha do Pai nosso para o português brasileiro:

“Pai da gente que tá no céu, santificado seje o teu nome, venha até a gente o teu reino, seje feita a tua vontade, assim na terra como no céu. O pão nosso de cada dia dá pra gente hoje, perdoa a gente pelas nossas ofensas, assim como a gente perdoa quem ofende a gente, não deixa a gente cair em tentação e livra a gente do mal. Amém.”

O Retorno de Jedi

Apesar do título, o post não vai falar de Guerra nas Estrelas. É só pra comentar alguns fatos ocorridos recentemente:

– Ataliba Teixeira de Castilho foi entrevistado por uma TV universitária, da UNIVESP. O vídeo está ali em cima.

– Antônio Gois, que pesquisou, apresenta dados de pesquisas que mostram que “Mesmo falantes cultos não seguem a norma padrão

No site do MEC, há um conjunto de artigos de vários autores, alguns já linkados aqui, mas felizmente reunidos agora no portal do ministério.

– O CQC de ontem cometeu a estupidez de falar do assunto e o que conseguiu foi apenas repetir as mesmas idiotices, Felipe Andreoli entrevistou Juca Kfouri, pego meio de surpresa (isso quer dizer que Felipe estava em Higienópolis, área nobre de São Paulo, e provavelmente em uma escola de elite, claro), ele deveria ter recomendado ao Felipe o que ele mesmo fez, entrevistar o Sírio Possenti, ou mesmo dar um pulo até a USP e falar com quem entende do assunto;

Reinaldo Azevedo, o iluminista, com sua elegância e humor sutil, se recusa a admitir que está errado, pelo contrário, continua atacando o livro, o governo, Marcos Bagno e o MEC. Normal, arrogantes nunca admitem tal coisa;

– Tô meio cansado dessa história toda, que parece só mais um ardil dos conservadores para atacarem o governo. Não que ele não deva ser criticado, só que pelo erros que de fato comete, não pelas coisas positivas.

Vá se informar, Sônia van Dijck!

Eu fico realmente triste com isso, principalmente quando somos alvejados por fogo amigo. Mas fico revoltado quando a pessoa que escreve o texto comete histerias do tipo que a profa. Sônia cometeu. Não estou com a verdade, muito pelo contrário. Mas humildemente gostaria de mostrar, passo a passo, argumento por argumento, como seu texto está equivocado. Tais equívocos são fruto de desconhecimento, falta de bom senso, e falta de ética, pois revelam que ela não se deu ao trabalho de ir pesquisar sobre o assunto que está escrevendo, o que é grave vindo de uma professora universitária. O texto original está em itálico, meus comentários em formatação normal e entre colchetes.

Política Educacional do MEC: falar e escrever errado… … é o certo (Sônia van Dijck)

[O equívoco começa no título, se ela tivesse lido o capítulo em questão do livro “Por uma vida Melhor”, saberia que não se trata de escrita, e que se estivesse também informada sobre o que se fez em linguística nos últimos 100 anos saberia que não existe regra errada quando 90% de uma comunidade de fala segue essa regra.]

Custa-me crer nos absurdos que acontecem no Brasil. Mas, a verdade dos fatos é indiscutível: o MEC adota livro como objetivo de ensinar a falar e a escrever errado.

Não tenho o menor interesse em discutir conceitos de dialetologia ou de sociolinguística com os autores, pois sei que o projeto não obedece a interesses científicos, mas políticos. 

[Novamente o equívoco, não há nada de errado com a concordância, e o livro, pelo menos naquele trecho, não está ensinando a escrever. Não precisamos entrar no mérito sociolinguístico do problema, já que ela obviamente não o entende. Se tivesse outra intenção, que não fosse atacar o governo, talvez ela tivesse ido pesquisar e saberia que o ‘projeto’ é baseado nos parâmetros curriculares nacionais (PCN) elaborados nos anos 1998-2000 do governo Fernando Henrique Cardoso. Tais parâmetros, por sua vez, são baseados em estudos realizados, pelo menos, desde o final da década de 70 no país e foram baseados em CRITÉRIOS CIENTÍFICOS, frutos de anos de estudo. Agora você quer me dizer que a sociedade não quer um conhecimento que pagou para ter, é isso?]

Vi, em um telejornal, a Profa. Heloísa Ramos, corajosamente, adequando conceitos e princípios linguísticos para justificar o nefando projeto do MEC, e sua concordância com tão escandaloso equívoco. Não me interessa refutar os argumentos equivocados da Professora, pois ela é só instrumento da política educacional do governo petista e está sendo paga para fazer seu papel. 

[Esse trecho é engraçado, porque a autora do texto assume não ter argumento científico para rebater o que a autora do livro defende, que argumento da autora do livro está equivocado? Novamente, a sua atitude é dizer que temos na autora do livro uma defensora de um programa político do governo, quando de fato é um programa de estado, ou seja, ele não mudará se entrar outro governo, e não mudará, se amanhã alguém provar que a gramática universal está errada, não é moda acadêmica, ou existem modas que duram 40 anos e são consensuais na academia?]

Deixo que o Prof. Evanildo Bechara dê a lição que a Professora e demais autores não aprenderam na Universidade.

[Um gramático não é mais referência de como se ensinar a língua pelo menos há 90 anos, desde que Saussure afirmou que as explicações para os fatos linguísticos devem estar no próprio sistema. Para o Bechara a pesquisa deve ficar na universidade e a sociedade deve continuar a ser enganada, devemos continuar afirmando que a variação não existe, só existe uma forma certa de falar e escrever o português, já que para eles falar e escrever é a mesma coisa. Veja que o gramático é a autoridade para a profa. Sônia, não o linguista, aquele sujeito que era seu colega de departamento nos cursos de letras em que ela lecionou; pelo jeito ela nunca soube o que seu vizinho de porta na universidade pesquisava].

O que me interessa é chamar a atenção para o bem organizado projeto de condenação dos alunos que passam e passarão pelo sistema público de educação. Falando e escrevendo errado o vernáculo, os estudantes de hoje e do futuro não terão oportunidade no mercado de trabalho e nem de crescimento intelectual. Falando e escrevendo “nós pega o peixe”, eles jamais serão engenheiros, médicos, vendedores, advogados, porteiros, enfermeiros, professores, jornalistas, bancários e mais muitas outras profissões e empregos lhes serão impossíveis.

[Preciso repetir? O livro não está falando de escrita quando afirma que ‘os livro’ é aceitável, o quão difícil é entender isso? Sem falar no equívoco de se associar ‘crescimento intelectual’ com o uso da norma culta. Só pra constar, conheço gente que fala ‘menas’ e ‘teje’ com nível universitário]

Não tenho notícia de que haja ou tenha havido algum governo de algum país que planejasse e implementasse projeto tão cruel, como se isso pudesse ser apelidado de projeto educacional. O Brasil consegue ser surpreendente e nefasto com um discurso pretensamente politicamente correto.

[Se outros países têm implantado metodologias semelhantes eu não sei, mas sei que não se ensina inglês britânico nos Estados Unidos, que na França não se fala como se escreve e ninguém fica horrorizado com isso. O discurso não é pretensioso, acho que esse adjetivo serve para qualificar aqueles que acham que sabem do que estão falando e não estão.]

Com pompa e circunstância, o MEC do governo petista quer assegurar que os futuros cidadãos fiquem privados de empregos, de crescimento intelectual, de relações culturais; no futuro, o MEC deseja que os brasileiros estejam no estado de barbárie linguística e sejam incapazes de entender um edital de concurso, por exemplo; salvo se o edital informar que “os candidato deve apresentarem os seguinte documento”.

[Novamente a autora revela desconhecimento do que está falando, o livro busca justamente ensinar o padrão culto e livro nenhum diz o contrário]

Nem Hitler, com sua mente diabólica e homicida, realizou um projeto desse tipo para dominar a juventude nazista, ganhando simpatias e aplausos dos pouco letrados daquela época.

[Isso é argumento? Hoje em dia é lugar comum querer comparar qualquer atitude intolerante com o nazismo e com Hitler… opa, peraí, quem é o intolerante nesse caso? Quem não está aceitando a diferença, a mudança de paradigma?]

Com pompa e circunstância, em uma palhaçada do politicamente correto, o governo petista organiza um exército de futuros adultos privados de proficiência no vernáculo, cuidadosamente preparado no sistema público de ensino, que servirá aos interesses do estado brasileiro que está sendo forjado desde 2003, em conformidade com as lições Gramsci.

[Ah sim, porque dizer que todos os milhões de alunos que chegam na escola falando ‘os livro’ precisam ser chamados de burros, ignorantes, eles precisam passar a vida escolar toda ouvindo que tem algo de errado com a língua deles, só assim vão aprender a escrever e falar o português culto; parece que isso tem funcionado bastante bem, basta ver os resultados da evasão escolar, dos testes de leitura. E os PCN, heim? Deve ter sido invenção de algum petista infiltrado no MEC nos idos de 1999, os acadêmicos que trabalharam na formulação dos PCN? Todos petistas, aposto! Me explica (sim, sou doutor na minha língua e uso ela do jeito que melhor me aprouver!) como é que alguém pode privar algum indíviduo de proficiência no vernáculo, se o aluno nem precisa ir para a escola para aprender ele (ou aprendê-lo, se preferir)]

Revolução?! Não! O PT não faz revolução; molda a sociedade que deseja manipular contaminando o sistema público de ensino com sua proposição populista de “respeito” à linguagem popular e familiar e coloquial das camadas menos escolarizadas atualmente. O governo petista, calmamente, pretende criar milhões de brasileiros que, quando chegarem à vida adulta, serão incapazes de ler e entender um jornal, uma revista e, principalmente, um livro de História, escritos em vernáculo. Esses futuros adultos não terão competência para apreciar Machado de Assis, Graciliano Ramos, Drummond, Vinicius, Érico Veríssimo e outros. E os ilustres autores do livro perverso, como bons peões do governo petista, poderão perguntar: “E quem precisa apreciar a Literatura elitista, golpista, burguesa?” – “Por que os adultos do futuro precisarão ler um livro de História, se eles não terão direito a discutir os fatos históricos, pois viverão apenas com as informações divulgadas na forma de “os cidadão deve comparecerem ao comício da liderança nacional, para que todos escute as verdade a serem revelada.”

[Acho que isso já aconteceu e quem fez isso não foram os petistas, foram os militares, o Sarney, o Itamar, o FHC… é só ver os testes educacionais, o nível de leitura do pessoal que passou pela escola nos anos 70, 80 e 90. Aqueles que tem família estruturada, acesso a livros, esses se dão bem independentemente do método de ensino ou do professor, só que esses são a minoria, a escola nunca conseguiu manter o diferente, ela sempre o repeliu, não sou eu quem está dizendo isso, é a história, mas o que eu conheço de história da educação… alguém que passou grande parte da vida formando professores deveria saber].

Bem sei que as boas escolas privadas jamais cairão nessa farsa de ser válido ensinar a falar, a ler e a escrever errado, como princípio pedagógico. Quem puder colocar seus filhos em boas escolas particulares, terá salvo parte dos futuros adultos da barbárie linguística. Então a Literatura elitista, golpista e burguesa de Machado, Graciliano, Drummond, Érico, Cecília Meireles e outros ainda terá alguns leitores. Jornais e revistas elitistas, golpistas, burgueses, que usarem a correção da Língua Portuguesa ainda poderão ser lidos e as notícias serão compreendidas por alguns futuros adultos.

[Ainda bem que tem gente que tem dinheiro nesse país, senão estariam ralados, né? Eu queria saber o que é ‘barbárie linguística’, fiquei curioso, sou doutor em linguística e desconheço esse conceito]

Não resisto e mando um recado para a ilustre Profa. Heloísa Ramos e demais autores: vocês ouviu os galos cantar e não sabe onde está os galo. Vocês nada sabe de níveis de linguagem. Vocês não entende nada da função da escola. Mas, vocês compreende perfeitamente esse meu recado escrito no dialeto do MEC petista, usado no livreco de ocês. Se vocês quiser me responder, por favor, escreva na Língua Portuguesa que seus professor dos tempo antigo e ultrapassado tentaram ensinar a vocês.

[“Vocês nada sabe de níveis de linguagem. Vocês não entende nada da função da escola.” Pois bem, dona Sônia, com essa afirmação a senhora insulta todos aqueles que todos os dias ensinam aos seus alunos nos cursos de letras a fazer justamente o que a profa. Heloísa Ramos pôs em prática. A senhora insulta o Prof. Ataliba Teixeira de Castilho, curador do Museu da Língua Portuguesa, coordenador do maior projeto de estudo da gramática da fala no planeta, o projeto NURC (Norma Urbana Culta) que mostra justamente que mesmo os falantes ditos cultos (com nível universitário e residentes em centros urbanos) não seguem as normas que as gramáticas prescrevem. Eu custo a entender como uma professora universitária pode ser tão dogmática a ponto de não aceitar uma mudança de paradigma na educação. E nem é uma revolução, já que se está apenas mostrando que há duas formas de se fazer a concordância nominal e verbal, uma tem mais prestígio que a outra, por isso uma é o padrão e a outra é a “errada”, mais daí provavelmente devemos ter uns 190 milhões de brasileiros falando errado nesse momento. A senhora insulta todos os acadêmicos que passaram anos de sua vida escrevendo artigos e livros defendendo justamente o que tem sido posto em prática, e nem é só pelo livro da profa. Heloísa, se a senhora estivesse melhor informada, saberia. A senhora insulta a inteligência dos acadêmicos e o próprio investimento que a sociedade fez nos últimos trinta anos em pesquisas sobre o ensino de língua portuguesa. A depender da senhora, podemos queimar todos os livros, teses, artigos, dissertações que foram escritas defendendo e mostrando que não há nada de errado com ‘os livro’ e construções similares, muito pelo contrário, já que estão todos errados, e a senhora e o Bechara estão certos?]

Segundo François Lyotard, linguagem é poder. A equipe de autores desse maldito livro sabe disso; por isso, aceitou servir de instrumento para o governo petista. Com seu tristemente brilhante trabalho, os ilustres autores tornaram o tarefa do professor de português uma atividade inútil: ninguém precisa ir à escola para aprender a falar e a escrever “a gente fomos, mas o pessoal saíram”.

[Exatamente, a língua é poder. Todos sabem que a invenção de regras por parte dos gramáticos é só mais um instrumento de poder. Ou vai me convencer de que existe alguma argumento razoável para termos tantas formas de escrever os ‘porquês’? Fala e escrita são coisas diferentes, fato. Não é teoria, não é politicamente correto, não é moda. Escrevemos e falamos diferentemente, fato. Há duas formas de se realizar a concordância nominal, fato.]

_________________

O texto da Profa. Sônia está publicado aqui. O blogue não informa se ele foi publicado em papel ou originalmente em outro site.

Ouçamos os especialistas

O Blog do Noblat é sempre prodigioso em achar essas pérolas do pensamento nacional: Ateneia Feijó, jornalista, ataca também de consultora pedagógica nas horas vagas. A linguística, essa deve ficar na universidade, devemos continuar enganando nossos alunos, como fazem as gramáticas portuguesas há 500 anos. Diz a jornalista:

“Aprovado pelo MEC, o livro didático “Por uma vida melhor”, da coleção “Viver, aprender”, caiu na boca do povo. O motivo? A autora Heloisa Ramos considera correto se falar e escrever sem regras gramaticais. Imaginei que o tema seria um prato cheio em conversas apenas entre mestres e professores obedientes à norma culta.” Rá, como se fosse possível falar ou escrever sem seguir alguma regra.

Sinceramente, dona Ateneia, melhor mudar de profissão, talvez a senhora entenda mais de pedagogia do ensino de língua do que de jornalismo, porque o que a senhora escreveu não é artigo e não é reportagem. Talvez uma crônica, dessas em que o escritor sai divulgando uma estória que pescou de ouvido. Daí o resultado parece fofoca. E eu que pensava que jornalista pesquisava, estudava, ouvia fontes para escrever os seus textos. Parece que o único sujeito que fez isso foi o Hélio, da Folha.

Saiu um nota pública da editora que publicou o livro. Vale a pena ler. Já que o que a mídia e os inteligentões de plantão, como o Jabor, o Sérgio Nogueira, ou o Alexandre Garcia, que acham que sabem do que estão falando, não se deram ao trabalho de ir conferir o livro.

Da nota da editora (link acima): “Pode-se constatar, portanto, que os autores não estão se furtando a ensinar a norma culta, apenas indicam que existem outras variedades diferentes dessa.” Tá claro, ou é preciso desenhar?

Eu queria saber onde estavam todos esses especialistas em língua e ensino, porque eles não aparecem nos congressos? Por que não lançam livros nos iluminando com suas mentes sábias.

Achei mais um, claro, linkado no blog do Noblat, o sábio. “Visão Perversa”

Claro, o Reinaldo Azevedo continua sua cruzada. Basta ler o que o cara tem postado.

Vamos ver o que o presidente da ABL, Marcos Vilaça, declarou:

“— Discordo completamente do entendimento que os professores que fizeram esse trabalho têm. Uma coisa é compreender a evolução da língua, que é um organismo vivo, a outra e validar erros grosseiros. É uma atitude de concessão demagógica. É como ensinar tabuada errada. Quatro vezes três é sempre 12, na periferia ou no palácio — afirmou.” Que primor de analogia. Acho que ele deve saber que no tempo dos gregos e até hoje a tabuada é a mesma. Que lá em Manaus a tabuada é a mesma que aqui no Paraná. Mas será que é tão complicado aceitar que a concordância pode variar? O pior é a completa ignorância no assunto, já que o nobre acadêmico não se deu ao trabalho de ver que o livro busca justamente ensinar a norma culta. Só pra constar, segundo a wikipédia, o acadêmico é ministro do Tribunal de Contas, advogado, jornalista, poeta, entre outras coisas. Quer alguém mais qualificado pra falar de ensino de língua e julgar o mérito de um livro didático? Parece que não tem.

Reinaldo posta inclusive uma nota do jornal o Globo, em que uma procuradora da república se mostra indignada com os livros. Olha procuradora, tanto corrupto por aí roubando dinheiro de merenda e a senhora preocupada com os livros didáticos…

Vou para por aqui, se eu procurar, não vou parar de achar tolices sobre o assunto.

Saiu um outro texto meu sobre o tema no portal de um jornal local, o A Cidade, a diagramção do site é bem bagunçada, mas é fácil encontrar o texto.

Mais alguns especialistas

Arnaldo Jabor na CBN – Ministério da Educação deveria virar o da Burrice Instituída

Clóvis Rossi – Inguinorança

Alexandre Garcia – Bom Dia Brasil

Sérgio Nogueira – Livro aprovado pelo MEC é uma inversão de valores

Esse Ségio Nogueira, especialista em soletração, deveria ser consultor do MEC, tal a sabedoria do professor.

“O que me irrita mais nessa história é que se fala tanto em preconceito e discriminação, mas acho que a discriminação maior é acreditar que a criança é incapaz de aprender plural e concordar verbo com sujeito. O ‘Soletrando’ [quadro do ‘Caldeirão do Huck’] está provando isso. Crianças são capazes de aprender questões ortográficas mais complexas.”

Na boa Sérgio Nogueira, qual será que era o objetivo da autora do livro ao apresentar as possibilidades de concordância nominal e verbal? Ensinar as declinações latinas? Acho que não. Ele diz ainda:

“Na opinião do professor, a língua portuguesa estaria ameaçada. “É diferente de respeitar as variações regionais e sociais não respeitar os padrões nacionais, não conhecer uma língua geral. Temos que ter uma linguagem que atinja do norte ao sul.”” Sério, Sérgio? É como se ele estivesse dizendo, “os padres precisam ensinar os 10 mandamentos na catequese, senão vão destruir a religião católica”. Qualquer aluno do primeiro ano do curso de letras sabe isso, isso é lugar comum. Agora, explica pra gente que ameaça é essa? Há duzentos anos tem gente falando que a língua está ameaçada, e até agora ela continua vivinha da silva.

Novamente, todos os linguistas estão errados. É o que diz o Sergio Nogueira, é o fim da gramática, culpa da linguística moderna. Adoro esse tipo de coisa, eles tem medo que as gramáticas acabem e eles percam o emprego. Por isso ninguém repercute a gramática do Perini, do Ataliba, a do português europeru organizada pela Maria Helena Mira Mateus, a Gramática de Usos da Moura Neves, as gramáticas lançadas pelo projeto NURC. O gênio, e todos os outros gênios da educação brasileira que têm comentado o fato, simplesmente se recusam a ver que o objetivo do livro é justamente ensinar o padrão, partindo do que a criança sabe. O que eles têm feito é desinformar a sociedade, fazendo uma análise superficial, quando não enganosa do livro e do que os parâmetros propõem. No mínimo, isso é estelionato. Vendem informação como se fosse a fonte da verdade, quando estão enganando a população.

Eles sim são os especialistas. Nós que escrevemos teses, artigos, formamos professores, lemos toneladas de livros para dizer o que dizemos estamos todos errados. Eles podem afirmar o que quiserem, baseados no senso-comum, no opinionismo puro e simples, em uma lógica que só eles entendem. Os especialistas não somos nós, os linguistas. Os especialistas são a ABL (autora de um acordo ortográfico cuja lógica só ela e seus consutores entendem), os escritores, os pedagogos (tão competentes que mal conseguem alfabetizar e se recusam a ler o que os linguistas escrevem sobre a alfabetização, como se a Emília Ferreiro tivesse dito tudo sobre alfabetização), são eles que formam professores de português, foram eles que escreveram os parâmetros curriculares nacionais e todas as ideias nas quais eles se baseiam.

Felizmente resta uma esperança, Hélio Schwartsman publicou artigo defendendo o livro.

Por que a Globo não chama o Ataliba de Castilho? A Maria M. Pereira Scherre? Algum representante da ABRALIN (Associação Brasileira de Linguística) ou da ALAB (Associação de Linguística Aplicada do Brasil)?